sexta-feira, 26 de julho de 2019

Escolas Waldorf da Prefeitura de Aracaju ganham fósseis de milhões de anos




Foto: André Moreira

Foto: André Moreira


Agência Aracaju de Notícias

No 17 de Março, Prefeitura e UFS iniciam projeto Museu Escola com fósseis de 80 milhões de anos

26/07/19 08h01
Em uma educação multidisciplinar, na qual os alunos aprendem conteúdos que vão além do básico, a oferta de conhecimento que fomente não só o desejo por uma profissão, mas também o orgulho e ciência da história do lugar em que vivem é muito importante. É com esse intuito que a Prefeitura  de Aracaju, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS), deu início ao projeto Museu Escola, desenvolvido nas escolas do bairro 17 de Março.

Por meio da UFS e do Instituto Social Micael, que já desenvolve outros trabalhos nas escolas do bairro, a Emei Doutor José Calumby Filho e a Emef José Souza de Jesus, receberam três peças de colônias de bactérias fossilizadas, existentes no planeta há mais de 80 milhões de ano e que auxiliaram na produção de oxigênio.

A representante do Instituto Micael, Maria Aparecida Dias, destaca a importância do projeto ao salientar que o estudo dos trombólitos, como são chamadas as peças, ajudará as crianças a entenderem um pouco mais da evolução do planeta e da história de Sergipe.

“Aqui em Sergipe a gente tem uma região muito rica em fósseis e nós, como escola de crianças, ainda na educação infantil e ensino fundamental, achamos importante que elas, mesmo sem esses conteúdos de nomenclatura e todos esses detalhes do fóssil, saibam e reconheçam que sua região, seu estado, é muito importante para o desenvolvimento da formação do mundo. Queremos que eles saibam que registros fósseis são esses e que são uma riqueza da nossa região”, disse Aparecida.

Na segunda-feira, 22, as escolas completaram o recebimento das três peças doadas pela Prefeitura de Rosário do Catete, local onde foram encontradas. O próximo passo será o processo de identificação e estudo dos trombólitos, a ser feito pelo Departamento de Geologia da UFS, que confere roupagem científica ao projeto.

“Com isso, podemos trazer muitas possibilidades de conteúdos de geografia, ciências; fazer a criança desenvolver um pensamento mais amplo do dia a dia escolar e, quem sabe despertar, interesses e futuros cientistas, arqueólogos, que se interessem pelo chão onde pisam”, argumentou Maria Aparecida.

Associados a esses fósseis, a ideia é criar, além de uma espécie de Museu nas escolas, expondo as peças para visitantes e familiares dos alunos, um acervo das principais rochas do estado de Sergipe para que as crianças tenham “uma noção de onde elas pisam", destaca a professora do departamento de Geologia da UFS e uma das criadoras do projeto, Cristine Lenz.

”Estamos criando projetos para os alunos compreenderem o local onde vivem, o que significa um fóssil em termos de evolução da vida; conseguirem identificar as rochas e muito mais. A gente já começou com uma palestra há cerca de dois meses atrás, com coisas super simples, como os tipos de rocha. E, agora, a partir da chegada do material, vamos partir para as outras atividades, para que eles possam interagir com esse material”, explicou Cristine Lenz.

Para o professor da Emef José Souza de Jesus, Adir Freire, esse é um projeto que dará às crianças um leque de possibilidades de conhecimento. “Essa é uma maneira de despertar nos alunos a curiosidade científica da origem da vida, uma coisa muito importante. É algo bastante inovador e interessante. Será um conteúdo introduzido nas aulas de ciências e geografia, tratando da geografia de Sergipe. Nós iremos procurar trabalhar de forma interdisciplinar. Esse projeto contribui para que os alunos tenham uma visão mais complexa e completa do conhecimento como um todo”, afirmou.

sábado, 20 de julho de 2019

Usar celular ou abraçar árvores? Folha de São Paulo, 20/jul/2019


Folha de São Paulo 20/07/2019


Usar celular ou abraçar árvores?


Da fama de hippie, a pedagogia Waldorf, que completa cem anos, é hoje mencionada como inspiração até pelas mais caretas das escolas. Alguns dos pilares existentes desde a sua fundação, na devastada Alemanha pós-Primeira Guerra, tornaram-se atraentes para colégios tradicionais que buscam dar conta da demanda por uma formação mais abrangente.

O aprendizado interdisciplinar é um deles. Na Waldorf, a matemática, por exemplo, surge na amarelinha, nas aulas sobre o Egito e no tricô. Outro é o autoconhecimento, cultivado no incentivo às artes manuais, ao movimento corporal e ao contato com a natureza. Não faz tempo que esses eram conceitos “alternativos”. Agora são ofertados como diferencial por quem martelava o marketing do “ensino forte”.

        

Mas tem algo da Waldorf que é visto como extraterrestre: o fato de ser contra o uso da tecnologia na infância. O entendimento é o de que a criança precisa se desenvolver antes de ser exposta às telas, a fim de que possa dominá-las, ao invés de ser controlada por elas.

Na maior parte dos colégios de outras linhas, quanto mais cedo, melhor, e os tablets invadem até o ensino infantil.

A Federação das Escolas Waldorf do Brasil, com 88 filiadas e 180 em processo de filiação, tem convicção de que o cenário mudará em breve, diante dos prejuízos causados pelo excesso de tecnologia.

Os problemas são mesmo inegáveis. Em resposta à crescente demanda de famílias desesperadas, o Hospital das Clínicas se prepara para atender adolescentes dependentes de tecnologia a partir do segundo semestre. Os sintomas se assemelham aos do vício em álcool e drogas, como ansiedade, depressão, agressividade e abandono dos estudos.

Se executivos de empresas de tecnologia do Vale do Silício estão matriculando os filhos em escolas Waldorf, cabe devanear com um futuro em que, pedagogias à parte, dar celular para bebê soará mais exótico do que abraçar uma árvore.

Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, Laura Mattos está na Folha desde 2000; desde 2016 produz reportagens especiais.